Encontro Presencial do (Per)Curso de Formação de Psicanalistas reúne teoria e afeto no coração do Rio de Janeiro
- Diogo Bonioli
- 12 de dez.
- 4 min de leitura
No dia 06 de dezembro de 2025, o ISMC promoveu um marcante encontro presencial entre Psicanalistas e Estudantes do (Per)Curso de Formação de Psicanalistas, transformando o espaço urbano do Rio de Janeiro em cenário vivo de trocas, afetos e reflexões teóricas. Foi um dia intenso, atravessado por alegria, pertencimento e aquele conhecido sentimento coletivo de “quero mais”, que costuma acompanhar experiências verdadeiramente significativas.
O encontro teve início no ponto de embarque do Bondinho de Santa Teresa, no centro do Rio de Janeiro. Logo ali, já se anunciava o tom especial do dia: o grupo contou com um bondinho exclusivo, que subiu os Arcos da Lapa tomado por conversas animadas, risadas, referências psicanalíticas espontâneas — algumas carregadas de humor, outras profundamente teóricas — e um clima de amistosidade que surpreendia até os próprios participantes. Embora os encontros do (Per)Curso ocorram majoritariamente de forma on-line, a sensação era a de que todos já se conheciam há muito tempo.
Estiveram presentes integrantes do (Per)Curso de Formação Básica II, (Per)Curso de Formação Básica III, do Seminário de (De)formação, que tem Diogo como +1, e do (Per)Curso de Formação Básica I, cujo +1 é Wellington Espíndola, compondo um grupo diverso e profundamente engajado com a formação psicanalítica.
O Bondinho de Santa Teresa: história em movimento
O Bondinho de Santa Teresa é um dos maiores ícones do Rio de Janeiro. Ligando o centro da cidade ao bairro boêmio de Santa Teresa, ele atravessa os históricos Arcos da Lapa e oferece um passeio que combina história, cultura e belezas urbanas. Em operação desde 1896, é considerado o último bonde em funcionamento regular da América Latina, sendo tombado como patrimônio cultural da cidade.
Seu trajeto de aproximadamente 6 km passa por pontos emblemáticos como a Estação Carioca, Largo da Carioca, Arcos da Lapa, Largo do Guimarães e Largo das Neves, proporcionando vistas privilegiadas da cidade e simbolizando, de forma muito própria, a conexão entre passado e presente carioca — metáfora que dialogou intensamente com as reflexões do grupo ao longo do dia.
Caminhos, encontros e o Parque Glória Maria
Após a subida até o Largo dos Guimarães, o grupo retornou - no mesmo bonde - ao Largo do Curvelo e seguiu a pé pelas ruas históricas de Santa Teresa, em um percurso que, por si só, já se constituiu como experiência formativa. Durante a caminhada, o grupo passou em frente à casa onde morou a psiquiatra Nise da Silveira, referência fundamental na história da saúde mental no Brasil, especialmente por sua defesa de práticas humanizadas, do cuidado pela via da arte e da escuta sensível do sofrimento psíquico — passagem que evocou reflexões espontâneas sobre clínica, ética e liberdade no campo da saúde mental.
O grupo seguiu então até o Centro Cultural Municipal Parque Glória Maria, onde aconteceu o aguardado momento de convivência coletiva com um pic-nic ao ar livre. Ali, os participantes se apresentaram, compartilharam trajetórias, trocaram experiências nos cartéis de trabalho e aprofundaram vínculos que já vinham sendo construídos ao longo da formação.
O Parque Glória Maria está localizado em Santa Teresa e ocupa as ruínas do antigo palacete de Laurinda Santos Lobo, importante mecenas da Belle Époque carioca, conhecida como a “marechala da elegância”. O espaço, hoje um premiado projeto arquitetônico de Ernani Freire e Sonia Lopes, preserva as ruínas históricas integradas a elementos contemporâneos, mantendo viva a memória do local. Além de sua programação cultural diversa, o parque oferece uma vista panorâmica singular da Baía de Guanabara e do Centro do Rio, permitindo compreender, do alto, a geografia e a complexidade da cidade — cenário que acolheu com delicadeza as trocas psicanalíticas do grupo.
Um dos pontos altos da tarde foi a apresentação do grupo de leitura nascido no (Per)Curso de Formação Básica II, que apresentou o trabalho final do tempo de cartel, fruto de um percurso coletivo de estudo e elaboração. O grupo desenvolveu uma leitura psicanalítica do conto “Amor”, de Clarice Lispector, articulando literatura, clínica e teoria de maneira sensível, consistente e profundamente tocante. A apresentação foi realizada por Lúcia Soares, Beatriz, Elienes (Lili) e Joyce Oliveira, sendo recebidas com entusiasmo e reconhecimento pelos presentes.
Na mesma ocasião, Elienes (Lili) também compartilhou com o grupo sua obra de arte, desenvolvida ao longo de seu percurso formativo, apresentando e elaborando os múltiplos significados possíveis inscritos em seu trabalho. O momento foi marcado por escuta atenta, associações livres e trocas afetivas, revelando como a produção artística pode operar como importante via de expressão subjetiva e elaboração psíquica no campo da formação psicanalítica.
Presenças que fizeram o dia
Participaram do encontro: Beatriz Febula, Wellington, Natália, Jack, Joana, Júlio César Santos, Talita Belchior, Lúcia Soares, Carol, Rosana Cruz, Lidiane, Polliana, Manuella, Erika, Joyce, Elienes e Edinho.
O Carmelo de Santa Teresa: silêncio, história e afeto
Após o momento no parque e os registros fotográficos, o grupo seguiu até o Carmelo de Santa Teresa, onde teve contato com a história do morro, do próprio Carmelo, da espiritualidade e da psicologia ligada a Santa Teresa. O mosteiro, marcado por uma tradição de reclusão, silêncio e vida contemplativa, provocou intensas experiências afetivas nos psicanalistas e estudantes presentes. Muitos relataram sensações de estranhamento, recolhimento, inquietação e curiosidade, afetos que foram posteriormente compartilhados, analisados e discutidos à luz da experiência subjetiva e da escuta psicanalítica.
Encerramento simbólico e o desejo de continuidade
Ao final do percurso, descendo novamente Santa Teresa, o encontro foi simbolicamente encerrado com uma foto coletiva nos Arcos da Lapa, marco histórico da cidade e testemunha silenciosa de um dia que uniu formação, cidade, cultura, teoria e afeto.
Ficou, entre todos, o costumeiro e valioso sentimento de “quero mais”, sinal de que a experiência ultrapassou o caráter de um simples encontro e se inscreveu como um momento significativo na trajetória formativa dos participantes do (Per)Curso de Formação de Psicanalistas do ISMC.

































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